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        Tornei-me professor para transmitir a beleza da música nordestina às novas gerações

        23 maio 2024

        Crescer no interior sempre foi uma experiência única e enriquecedora. Durante a minha infância, quase todos os fins de semana e feriados eram marcados por viagens ao sítio da família em Barreira, uma cidadezinha próxima de Redenção, no estado do Ceará. A trilha sonora dessas viagens era dominada pelas melodias inconfundíveis de Luiz Gonzaga, que meu pai sempre fazia questão de tocar para nós.

        As letras das músicas de Gonzaga se materializavam no nosso cotidiano: a chuva e a seca, as corridas de boi, as pescarias, o canto das aves, as plantações e a colheita durante as festas de São João. Esses momentos simples e autênticos moldaram minha paixão pela música e pela cultura nordestina.

        Na década de 1990, o cenário musical começou a mudar. As tradicionais bandas de forró com sanfona, zabumba e triângulo foram substituídas por grupos que incorporavam metais e guitarras. Luiz Gonzaga deixou de tocar nas rádios e olha que a internet ainda não era uma realidade acessível.

        Foi nesse contexto que surgiu em mim a vontade de aprender a tocar sanfona, na esperança de preservar nossa rica tradição musical. No entanto, sem músicos na família, esse sonho parecia distante e acabei adiando tal aspiração.Na adolescência, após receber o sacramento da Crisma, me envolvi com o grupo de liturgia da igreja. Lá, aprendi a tocar violão, guitarra e bateria, mas não via a música como uma carreira a ser seguida.

        Quando cheguei aos 22 anos, já adulto, pai e trabalhando com manutenção de computadores e internet, minha vida tomou um rumo inesperado.

        Em uma visita para consertar o computador de uma senhora que morava na região, avistei uma sanfona em seu sofá. Ela, sempre disposta a ensinar, propôs trocar aulas de sanfona por serviços de manutenção em seu computador. Assim, iniciei minhas primeiras lições, embora a evolução fosse lenta, pois não tinha uma sanfona para praticar em casa.

        Então, anos mais tarde, com a ajuda de um patrão chamado João Nelson, consegui comprar minha primeira sanfona. O sonho começou a se concretizar e, após dois anos, já conseguia fazer apresentações de duas horas.

        Contudo, percebi que me faltava a teoria musical para avançar mais. As escolas de música ofereciam cursos em horário comercial, o que era incompatível com meu trabalho. A solução foi entrar no curso de música da Universidade Federal do Ceará (UFC), um feito que orgulha minha família. Com muito esforço, passei no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e ingressei na licenciatura em música na UFC. Foi durante esse curso que nasceu o professor em mim. As aulas de didática revelaram a importância da música para o desenvolvimento mental e psicológico das pessoas, o que me motivou a começar a ensinar sanfona já no segundo ano de faculdade.

        Encontrei grande realização no ensino e, ao longo do curso, através de estágios e estudos aprofundados, me tornei professor em escolas, ajudando a manter viva a tradição musical que tanto valorizo.

        Minha rotina era intensa: aulas pela manhã, bolsa de estudos à tarde e trabalho de telemarketing até tarde da noite. Mas mesmo assim, concluí o curso sem reprovações, graças a muita determinação e apoio.

        Hoje, tenho a honra de tocar na banda de forró tradicional “Regional Bom Demais”, dar aulas particulares de sanfona e compartilhar a rica tradição musical nordestina com os alunos do Colégio Universo.

        A jornada foi longa e cheia de desafios, mas cada passo valeu a pena para manter viva a tradição e transmitir a beleza da música nordestina às novas gerações.

        Emanuel Patrício, Professor de música no Colégio Universo.